segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

As Flores do Ipê (26/09/2005)

As folhas caem e surgem as flores,
Amarelas!...Roxas!...Descarnadas solidão!
Pintam no espaço outras cores,
E formam um tapete sem viço pelo chão!

De matiz cinza violeta e furta-cor,
As flores vão se espalhando sobre o rio!
E em volteios, no hialino vapor,
Elevam-se tão tristes num vórtice vazio!

As tristezas de tantos sonhos que passam,
Assombram-me a vida, como o tempo,
Dos corações as saudades não disfarçam!


Caem as flores!...Rolam dispersas pelo chão!
Deixam-se levar pelo vento,
No outono da minha embalsamada solidão...

(® P.O.Velásquez)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Amazonas (26/06/2005)

Do Amazonas, vem a suave maresia,
E tranqüilo, sopra o vento tristemente...
Um ondulante respingo de melancolia
Leva meus sonhos para sempre...

Sinto as águas balançarem, de repente,
Tão escuras!...Sinistras!...Tenebrosas!
Acompanham sinuosas e perenes
As ondas, que agora já vão mortas...

Navegam meus sonhos com estilo e graça!
E flutuam, e vão por sobre as ondas!
E brincam na tarde que passa...

Meus sonhos vão seguindo as curvas rio,
E lá!...Nos confins do Amazonas,
Mergulham perdidos no vazio...


(P.O.Velásquez)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A *Pororoca, Um “**Causo” da Amazônia (12/01/2009)

Era noite alta. Eu dormia, quando, de repente, a mãe me acordou, gritando agitada:
- Vai pegar as suas coisas que nós vamos pra dentro da mata, pra parte mais alta, onde é mais seguro!
- Por quê? – perguntei.
- Faz o que eu estou te mandando, menino, não reclama! – respondeu.
- Mas mãe! – tentei argumentar. Ela então complementou.
- Vai logo e solta todos os animais, que está vindo coisa feia pela frente!
Comecei então, a arrumar minhas coisas, e ela me apressando, dizendo que era pra eu pegar as coisas que pudesse levar, pois tínhamos pouco tempo. Soltei os animais e vi que o tempo estava calmo demais, a mata estava num silêncio total. Foi aí que percebi o porquê de tudo aquilo, era a pororoca que vinha, e ela vinha violenta. A princípio eu não ouvira o barulho, mas agora sim, já dava pra ouvir ao longe. Fiquei preocupado, nunca vira minha mãe assim, mas segui seus conselhos. Com a pororoca não se devia brincar. Como nossa casa ficava bem na beira do Igarapé, e ele tinha o leito raso, estávamos sujeito a ser arrastados pela força da águas pororoca que, quando chegava, não respeitava nada. Ela entrava em todos os lugares, vinha derrubando árvores, quebrando, afundando embarcações, abrindo furos, amedrontando os ribeirinhos, arrastando as redes dos pescadores, enfim, destruindo tudo mesmo!
Pegamos nossas coisas e fomos, então, correndo pro meio da mata, pra parte mais alta de uma pequena montanha que se elevava na parte de trás do quintal da nossa casa, esperar que ela passasse.
- Está com medo, menino? – perguntou minha mãe.
- Não! Estou não! – respondi, com um medo horrível, mas não dei o braço a torcer.
- É, estou percebendo, mesmo. – redargüiu a mãe, e nos pusemos a rir da situação. Nós dois estávamos lá, no meio da mata, tremendo que nem açaizeiro no meio da tempestade.
Fiquei pensando comigo, já tinham me falado que em cima da pororoca vinham montados três irmãos, o ***Lin, o Nonô e o Bita, que, por eles terem sido tragados e mortos por uma forte onda, vinham agora se vingar dos vivos, causando toda sorte de estrago aos ribeirinhos e a quem se metesse no seu caminho. Perguntei então:
- É verdade, mãe, que vem gente montada em cima da pororoca?
- É o que dizem os mais velhos. Eu, na verdade, nunca vi.
- Sei. – disse, e fiquei ****matutando comigo.
Ficamos em silêncio. Era noite de lua alta, estava tudo claro, um vento forte tinha começado a soprar, quando nesse momento, depois de uma longa espera, um barulho muito forte se fez ouvir, como que ribombando que nem trovão, e foi ficando cada vez mais alto e mais forte e as águas vieram, e violentas, num ímpeto atroz, começaram a invadir as ribanceiras onde estava nossa casa, arrancando e arrastando ela como se fosse uma folha de papel. Era uma onda muito alta, de uns quatro metros de altura. Depois que passou, vieram os “banzeiros”, as ondas menores que foram varrendo a terra dos barrancos até morrerem na praia.
Quando da passagem da onda mais alta, tomei coragem e olhei pra “*****cabeceira” da pororoca, pra ver se vinha alguém em cima dela. Nesse momento, o luar iluminou uma cena insólita, e confesso que quase não acreditei no que vi naquela hora! Era um ******boto cor-de-rosa que vinha em cima de uma prancha, todo *******pimpão, surfando na pororoca!

(P.O.Velásquez)

Notas do Autor
*Pororoca – é um fenômeno que ocorre na Amazônia, principalmente na foz do rio que corta toda sua extensão, o grandioso rio Amazonas. No Amapá, ocorre na “Boca” do Araguari, no canal do inferno da Ilha do Maracá, na ilha do Bailique. Ocorre no Estado do Pará também, e em outras partes. Esse fenômeno acontece nos mês de janeiro e vai até o mês de maio. O vocábulo POROROCA vem de POROROKA, da língua tupi, que significa ESTRONDAR.
“**Causo” – para os ribeirinhos que vivem na Amazônia, “causo” é uma história que é contada e, por ser tão inacreditável, não se sabe se é verdade ou não.
***Lin, Nonô e Bita – segundo a lenda da pororoca do Estado do Amapá, eram os três irmãos que morreram afogados quando uma forte onda afundou a canoa em que se encontravam.
****matutando – pensando, ponderando...
“*****cabeceira” – onda principal da pororoca.
******Boto cor-de-rosa – mamífero cetáceo que vive nos rios da Amazônia, conhecido também como golfinho. Segundo a lenda, em noites de festa, transforma-se num garboso rapaz, todo de branco, e se insinua para as moças, seduzindo-as.
*******pimpão – orgulhoso, vaidoso...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Minha Filhinha (25/07/05)

No jardim onde sempre brincava
Eu lembro de minha filhinha correndo...
Fazendo coisas que tanto gostava!
Eu lembro e de saudades vou morrendo...

Seguem monótonas as horas...E os dias!
Vão-se me as lembranças, por fim,
Tristonhas!...Tão mortas!...Fugidias!
Velhas recordações em nanquim...

Tão bela!...E linda!...Era minha filhinha,
E muito e sempre comigo vivia!
Uma saudade que agora é só minha...

E veio a morte!...E de mim não se apiedou!
E naquela noite calma, tão fria,
Pegando-a no colo, num abraço, a levou...


(® P.O.Velásquez)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

As Chuvas de Ontem (06/02/2009)

Ontem a tarde começou a chover, e só foi cessar agora pela manhã.
Como eu gosto muito quando chove, fiquei então olhando na tarde, da janela do meu quarto, os pingos caírem ritmados no chão.
Antes, porém, de iniciar a chuva, o tempo sempre traz junto, aquele ventinho gostoso, aquele frescor da vida, aquele cheiro de terra quase molhada.
Fiquei parado assim, por um momento, sentindo aquele aroma agradável e como que fui hipnotizado pelas gotículas que começara a cair limpidamente...
O pensamento então voou no espaço, e voltei numa espiral, há muito, muito tempo atrás. Queria estar lá fora novamente, para brincar na chuva, correr, saltar, jogar água nos amigos e eles em mim, sem futuro nem passado, só aquele presente, que agora sei que não volta mais...
Aqueles momentos podem ter sido muito insignificantes para muitos, porém, pra mim, foram muitos significativos e até hoje os guardo lá no fundo da memória, e sempre quando chove, o pensamento voa longe...
Quando começa a chover por aqui, a chuva vai caindo de mansinho, devagarzinho, bem de leve mesmo. Vai molhando as coisas como o orvalho, que molha tudo e todos os que se deixam, por ele, ser molhados (que o orvalho molha quem o deseja, não quem o quer).
Depois começou a cair mais forte, e aí, ela foi levando os sonhos, molhando os ressentimentos, apagando a solidão, trazendo esperança, lavando a alma...
Foi muito gratificante tê-la tão perto, tão juntinho, sentir seu perfume nas cores vibrantes do arco-íris que iluminou o meu olhar naquela ante tarde.
As lembranças vêm nítidas nesses momentos, e a imaginação flui mais agilmente, mas facilmente. Fui assim, escrevendo frases conexas e desconexas, umas tecidas às outras, outras descartadas e jogadas na lixeira...
Já era noite alta, quando um trovão estrondou lá fora e um relâmpago cortou o céu! A chuva começou a definhar, mais aí veio aquele vento soprando frio bater na janela descerrada do meu quarto, num quase imperceptível assovio.
No pensamento os sonhos foram se misturando aos pesadelos, e os dedos correram mais céleres nas teclas do computador, digitando, martelando, teclando, cortando palavras e frases!
Já um tanto feridas pelo lapidar nos teclados, as mãos começaram a tremer, e a retina dilatada, salta vermelha dos olhos que miram à tela do computador. Já é tarde!
O computador vai cansado...
Os dedos, as teclas, o corpo, a alma, todos vão perdidos no compasso da chuva, das horas...

(® P.O.Velásquez)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O Cisne (06/07/2008)

Emerges das águas num inefável cisne encantado!
Tão feliz,
Ruflas tuas asas e te elevas no escuro lago,
Olha-me nos olhos e assim sorris...

Do hiperbóreo, repousa ave luz imaculada,
Tua alma!
Sim!...Na minha alma arrebatada!
Quero ver-te na luz que irradia tanta calma...

Quando a tepidez da luz do sol dourado vaso,
Arrefecer,
E o brilho da lua refletir num fundo raso,
Quero o teu último canto ser!

Entre as flores - a margem... -, quedo-me e deito,
Enfeitiçado!
Sim!...E enquanto flutuas sobre airoso leito,
Em silêncio te contemplo, apaixonado...


(® P.O.Velásquez)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Numa Tarde de Verão (09/05/05)

O horizonte torna-se escuro!...Cinzento!
O vento pára de soprar!
Tudo fica calmo, em silêncio,
O céu começa a chorar...

Do Amazonas, as águas levam meus pensamentos,
Para além do que restou desses fantasmas...
Que riem assim como loucos a todo vão momentos,
Eu sofro tanto, e tudo, e mais, se acalma...

De repente!...Tudo escurece!
Risca o céu, um raio!...E outro!...E outro mais!
O anseio de viver no meu peito esmorece,
Que a morte, em mim, seja a paz!

Um vento frio avança e me açoita a face calma...
E roça e fere e fustiga o coração que tanto amou!
As lembranças ainda me afligem a triste alma,
E muito me assombram na saudade que deixou!


(® P.O.Velásquez)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Sóror Negra (05/11/07)

Esvoaças pelas noites mais sombrias,
No cimo dos quatros baluartes do forte!
Vais além do que muito mais há via,
Passar nos passos impassíveis da morte!

Do farol que brilhou no cimo da fortaleza,
Só restou o vestígio mortiço de uma luz,
Que nas noites de tempestuosa tristeza
Balanças nos braços, por sob o capuz!

Nos baluartes repica tenebroso, um sino!
Um lamento que às casamatas se expande,
Reverbera no Amazonas em desatino!

Teus gritos!...Bramidos que ouço do além!
Riscam as paredes, flamejantes,
E se perdem na existência que não tens!

(® P. O. Velásquez)

O Farol (14/08/08)


Brilham na luz mortiça do farol,
Lembranças de sonhos malferidos!

As brumas que me ferem a alma
Já avançam num dorido castigo...

Do farol, soluça a mortiça luz...
Vão-se nas brumas, mil sofrimentos!
Mágoas num sudário embuçadas!
Sussurros em derradeiros alentos!

O farol é Triste!...Triste!...Triste!
Assim ecoa um poema inacabado,
Em versos que nunca viste!

Amaldiçôo o crepúsculo azul-infinito!
E à luz mortiça do farol,
Repete o eco, meu infausto grito...

(® P.O.Velásquez)

O Início

Nestas páginas publicarei um pouco do que me dói na alma...
Postarei poemas, crônica, “causos”, haicais, e outros tantos mais,
Poemas estes que escrevi ao longo dos anos...
Também postarei poemas de outros Escritores, famosos ou não,
Letras de canções, enfim, como já disse...
O que me dói na alma.